O que pensar de alguém que filosofa com as traças? Caso clínico seguramente na sociedade atual com suas psicopatologizações e diagnósticos que determinam o que/quem somos para nós mesmos, antes mesmo que a gente saiba.
Mas não vou falar disso agora, deixo para uma sequência da série de "lições de traças", queria falar sobre ação, e mais do que isso, do que nos faz agir. Qual a força que move nossa ação?
Mas o que as traças tem a ver com isso?
Estou eu um dia desses na academia sem vontade alguma de colocar meu corpo para fazer movimentos repetitivos. E após algumas repetições amaldiçoadas e desajeitadas, pois eu não estava de fato presente naquilo que estava fazendo, olho para a parede, e, próximo ao chão vejo uma traça iniciando sua escalada.
Nesse momento me veio à cabeça um vídeo que já usei muito em treinamentos do alpinista Chris Sharma escalando paredes sem equipamentos de segurança. Aquela traça era o próprio Chris Sharma escalando uma parede de 90º que relativamente ao seu tamanho equivaleria a um paredão de 500 m.
Olhando ela incansável subindo me senti ainda menor pela minha falta de propósito e energia para fazer minhas séries. A traça tinha mais propósito do que eu, pois ela na verdade não tinha propósito algum, só seguia sua programação biológica.
Nisso um grande insight me golpeou como uma marreta, o cuidado do corpo antes de ser estético é existencial, e o corpo que sou, não é o corpo que tenho, mas sim uma das facetas de mim mesmo.
Engoli a falta de motivação, coloquei minha atenção no treino, e de tempos em tempos olhava para a parede e via minha amiga subindo alheia ao que ela tinha acabado de me inspirar.
Nada é tão pequeno, nem tão insignificante que não possa nos ajudar na construção de sentido, e na energização de nossa existência. Uma traça me ensinou isso!!!